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Brasil - Crise obriga Embraer a diversificar atuação

Curado se prepara para dois anos ruins: "Defesa é um setor mais
estratégico, não sujeito às variações econômicas"

Sergio Zacchi / Valor

Graças ao vigor das vendas no período que antecedeu a crise mundial, a Embraer ainda tem condições de enfrentar de maneira equilibrada as turbulências que, segundo prevê o presidente da companhia, Frederico Curado, devem se estender até 2010. Mesmo assim, a fabricante de aeronaves brasileira tem pela frente o desafio de reduzir a excessiva dependência da venda de jatos comerciais para os Estados Unidos. Para isso, a empresa precisa mudar o foco dos negócios.

Uma das alternativas é incrementar a atividade de serviços e gestão de peças. Em 2008, essa área representou 9% da receita. Mas a companhia planeja aumentar as vendas desse segmento. Em 2008, os serviços aeronáuticos renderam à Embraer um faturamento em torno de US$ 600 milhões. O objetivo é ampliar a receita para US$ 800 milhões ainda este ano.

Os serviços abrangem de reparos de componentes e gestão de peças a equipamentos para treinamento. Desde o ano passado, a Força Aérea da Colômbia conta com um sofisticado simulador fornecido pela Embraer para treinamento fora do avião. Este mês a companhia assinou um contrato de dez anos com a Japan Airlines (JAL) para o fornecimento de peças de reposição para os jatos Embraer 170 operados pela J-AIR, subsidiária da JAL que faz voos regionais no Japão.

"A diversificação da atividade é uma fonte de receita", afirma Curado. Ele conta que para poder atender aos clientes em todas as regiões a empresa tem centros de peças no Brasil, Europa, Cingapura, China e Estados Unidos.

Outra área que desponta como uma oportunidade de negócios é a de defesa e governo. A participação ainda é pequena. De uma receita total de US$ 5,5 bilhões prevista para este ano, essa atividade deverá ter participação de US$ 600 milhões.

Curado lembra que a importância da área de defesa e governo cresce num momento como o atual. "Trata-se de um setor mais estratégico, não tão sujeito às variações econômicas como é a aviação comercial", destaca.

Nesse mercado, a companhia brasileira tem ampliado a sua participação no exterior, com vendas para as forças aéreas da Índia, Tailândia e Equador. No Brasil, serão entregues para o governo federal este ano dois jatos 190, que substituirão antigos modelos 737 da Boeing. Existe, ainda, a expectativa de demanda para o novo cargueiro militar, o KC-390, que está em fase de desenvolvimento. Nesse caso, as perspectivas de negócios envolvem a Força Aérea Brasileira e também outros países.

Além da diversificação de negócios, a Embraer precisa reduzir o peso da participação dos Estados Unidos na sua receita. É por conta da crise em países desenvolvidos, como os EUA, que a companhia previu uma queda de receita líquida de US$ 6,3 bilhões em 2008 para US$ 5,5 bilhões, em 2009. Além de também ter reduzido o volume de investimentos, de US$ 500 milhões no ano passado para US$ 350 milhões em 2009.

Do faturamento total, de US$ 6,3 bilhões, obtido no ano passado, os contratos com os Estados Unidos representaram 43%. O percentual caiu em relação ao ano anterior. Em 2007 a participação do mercado americano foi de 46%. "Ter a maior parte da receita vinda do mundo desenvolvido, que sempre foi para nós uma grande força, nesse momento é uma desvantagem", diz Curado.

Em razão da crise internacional, desde outubro a companhia vem reduzindo a previsão de entregas para 2009. Os volumes previstos passaram de 350 aeronaves naquele mês para 270 um mês depois. Em fevereiro, uma nova revisão indicou que não mais do que 242 unidades poderão ser entregues este ano. Essa nova previsão de queda nas entregas levou, então, a empresa a demitir 4,2 mil funcionários, o que corresponde a 20% do efetivo.

Já faz algum tempo que a Embraer tenta diversificar mercados. O que mais se destacou no ano passado foi o avanço da região Ásia Pacífico, cuja participação na receita saiu de 6% em 2007 para 18% em 2008. A demanda na aviação regional de companhias aéreas de países como China e Oriente Médio beneficiou a empresa brasileira. A crise, agora, afetou também a Ásia. Mas a direção da Embraer conta com crescimento dos mercados dessa região no longo prazo.

Já a América Latina continua a ser menos representativa do que a direção da Embraer gostaria. A participação da região na receita da empresa foi de 10% em 2008, sendo que o Brasil ficou com 4%.

Além de o mercado latino-americano ser ainda pequeno em relação ao resto do mundo, Curado continua a apontar a falta de interesse das companhias aéreas brasileiras na criação de rotas regionais, foco de atuação dos jatos da fabricante brasileira.

Mas as dores de cabeça da direção da Embraer nos próximos meses não param por aí. Para poder pagar os aviões, boa parte dos clientes depende de financiamento. O companhia aguarda ansiosamente a liberação de linhas do BNDES para compradores de aviões Embraer. "Temos clientes, mas eles não tem como pagar", diz Curado. Na lista do BNDES estão as duas companhias brasileiras - Azul e Trip - e também a Aerolineas Argentinas.

No caso da Argentina, o governo daquele país tem a intenção de acertar uma aliança estratégica entre a fabricante de aviões Área Material Córdoba (AMC) e a Embraer para a produção conjunta de equipamentos para aviação civil e militar. Curado explica que não existe nenhuma negociação em andamento.






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