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Brasil - Marinha resgata naufragos em alto-mar



Mariane Thamsten
O casal de náufragos no Clube Naval Charitas, em Niterói / Foto; Fábio Rossi

RIO - Depois de nove anos vivendo a bordo do Dalkiri, um veleiro de 32 pés (cerca de 10 metros), jamais havia passado pela cabeça do casal de velejadores Gerard Haves, de 63 anos, e Heatlher Patricia, de 59, que eles seriam obrigados a interromper a volta para casa, na África do Sul. E, justamente, pela força da natureza, que os levou a vários cantos do planeta.

Eles perderam o barco (onde moravam) quando passaram por uma tempestade com ondas de mais de oito metros e ventos de 40 nós (72km/h) no meio do oceano ( relembre como foi no blog De mar em mar ). O casal havia saído, no dia 1º de abril, em Santa Catarina, com destino ao continente africano ( veja vídeo do resgate e da chegada dos velejadores ao Rio ). Após um mês de calmaria, a tempestade mudou a vida do casal, que tem dois filhos.( confira fotos do resgate do casal pela Marinha do Brasil). No dia 1º de maio, ondas de oito metros e ventos de 40 nós (aproximadamente 72km/h) provocaram avarias na embarcação, que ficou impedida de prosseguir viagem.

- As ondas lavavam o barco e tivemos que bombear a água que entrava para fora, ou afundaríamos. Tive muito medo, e eu só bombeava e orava. Pensei que iria morrer ali mesmo - lembra Patricia.

Gerard contou que o naufrágio foi o pior momento da vida do casal:

- Jamais pensei que pudesse passar por isso. Foi a pior coisa que aconteceu nas nossas vidas. Estamos muito gratos a todos que nos ajudaram para que fôssemos, então, resgatados pela Marinha do Brasil. Estamos vivos graças a eles - disse Jess, como o velejador é chamado.

Depois de passar quatro dias tirando a água do barco para que ele não afundasse e outros quatro dias a bordo da fragata que os resgatou até chegarem ao Rio, por volta das 10h deste sábado, na Ilha do Mocanguê, em Niterói, o casal estava visivelmente cansado. Perguntados se voltariam a velejar, eles trocalham olhares, mas Patricia antecipou:

- Não sei. Talvez. Ainda não estamos pensando nisso. Acabamos de passar por uma situação muito difícil.

Casal de sul-africanos Gerard Haves e Heather Patricia Holland, no Clube Naval Charitas, depois de ficarem por vários dias à deriva / Foto: Fábio Rossi - O Globo

O casal ficará hospedado no Clube Naval Charitas, em Niterói, até que resolvam a situação para voltar para casa. Em uma das varandas do clube, os velejadores saboreavam uma porção de aipim frito acompanhado de uma garrafa de cerveja.

- É muito bom estar com vida e aqui, no Rio, que nós já conhecíamos, e que amamos - disse Patricia, ao lado da velejadora Susy, do veleiro Samba, considerada a Relações Públicas dos moradores do clube.

De acordo com o diretor de náutica do clube, Geraldino Moraes, o casal terá todas as despesas pagas até que a família consiga juntar dinheiro suficiente para que eles voltem de avião para a África do Sul. Os dois só conseguiram recuperar algumas peças de roupas e os documentos que estavam na embarcação que afundou. Ainda segundo Moraes, foi feita uma campanha interna com os velejadores do clube para conseguir roupas para Gerard e Patricia, já que perderam tudo no naufrágio.

Resgate representa um marco para a Marinha do Brasil

Eles foram resgatados e trazidos para o Rio pela fragada Bosísio, da Marinha do Brasil. O pedido de socorro foi emitido no dia 1º de maio, que foi recebido por um outro veleiro. A embarcação, por sua vez, retransmitiu o sinal para uma estação de rádio amadora na África do Sul, que acionou o Centro de Coordenação de Busca e Salvamento de Cape Town, que, então, pediu apoio à Marinha do Brasil.

De acordo com o comandante da fragata Bosísio, capitão-de-fragata Cláudio José D'Alberto Senna, o resgate representa um marco, já que foi o salvamento mais distante feito por um navio da Marinha do Brasil.

- Este foi o salvamento mais distante que uma embarcação da Marinha do Brasil já realizou. Ficamos tristes pela perda do barco, mas imensamente satisfeitos pelo sucesso da operação, porque os resgatamos com vida. Cansados, mas bem de saúde.

Para o comandante Senna, o mais difícil da operação foi localizar o barco no meio do oceano.

- O mais difícil foi encontrar o ponto certo em que o barco estava. A cada marcação que fazíamos, o barco se afastava de nós, já que estava à deriva - conta o comandante, lembrando que o resgate demorou mais um dia para ser feito por conta do afastamento do barco.

A manobra de resgate foi a conhecida como pickup, onde o casal é retirado por um guincho puxado por um helicóptero da Marinha (que foi junto com a fragata). O barco foi abandonado em processo de afundamento. Por causa da distância, a fragata brasileira precisou ser reabastecida durante o regresso ao Rio de Janeiro. O abastecimento foi feito pelo navio-tanque Almirante Gastão Motta, também da Marinha do Brasil.





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