Air France 447 - Primeiro relatório sobre acidente sairá em junho, afirma BEA
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Agência francesa conta com equipe de 20 oficiais da BEA e 30 especialistas da Airbus e da Air France
AP e Andrei Netto, correspondente
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A agência confirmou que o Airbus A330-220 estava em perfeitas condições técnicas antes de decolar do Rio de Janeiro com destino a Paris, na noite do domingo. A informação é a primeira certeza de uma enquete que se anuncia longa e complexa - e que pode resultar na ausência de respostas. "Nada leva a crer que o aparelho tivesse algum problema ao decolar," disse Paul-Louis Arslanidan, diretor do BEA, a quem caberá a coordenação-geral da investigação.
Arslanidan se recusou a comentar todas as hipóteses levantadas, no Brasil e na França, para explicar as causas do desastre, o pior da história da aviação civil do país. "Nós estamos diante de um quebra-cabeças. Não sabemos nem sequer a hora exata do acidente", lembrou, não descartando a possibilidade de que a enquete seja incapaz de encontrar uma "conclusão suficiente".
Em silêncio absoluto desde o desaparecimento, a BEA já trabalha na investigação há 72 horas, antes mesmo da confirmação do acidente. Quatro equipes foram formadas, com 20 experts do próprio escritório, além de outros 30 especialistas deslocados pela Airbus, a fabricante, e pela Air France, a responsável pela manutenção do aparelho.
O primeiro grupo participará das pesquisas em alto-mar, com o objetivo de recuperar o maior número de destroços da aeronave - inclusive as caixas pretas. Um segundo está encarregado de apurar o histórico e as condições de manutenção, enquanto outro estudará como se dava o uso do aparelho. Por fim, uma equipe já vem investigando os sistemas e os equipamentos do avião, bem como as comunicações por rádio feitas pela tripulação com os postos de controle, a trajetória do voo e a dezena de mensagens automáticas enviadas durante quatro minutos, a partir das 4h14min - 23h14min de Brasília -, quando se supõe tenha ocorrido a queda.
Dois membros desta última equipe foram enviados ao Brasil e trabalham com as autoridades brasileiras. Sobre os indícios relevados pelas mensagens automáticas - e publicados pelo Estado ontem -, Arslanidan afirmou que "o essencial de tudo o que se tem dito é provavelmente verdadeiro", mas completou: "As mensagens são apenas a ponta muito pequena de um iceberg. Temos de ter muito cuidado com sua interpretação". O diretor também afirmou que os detalhes da trajetória - como a suposta manutenção dos 35 mil pés de altitude, quando o plano de voo previa a ascensão até 37 mil pés durante a travessia do Atlântico - vêm sendo analisados.
Arslanidan considera o acesso às caixas pretas, nas quais haveria registros sobre os últimos instantes do voo, uma etapa "extremamente importante" da enquete. "Será preciso tentar identificar as caixas pretas, mas também precisamos nos preparar para trabalhar sem elas." O diretor não conta com sua localização, em razão do local no qual o acidente teria acontecido, no meio do oceano Atlântico, em uma zona abissal, na qual a profundidade pode chegar a 4 mil metros. "É perfeitamente possível trabalharmos sem elas. Muitas vezes o estado em que se encontram não permite a obtenção de informações, ou as informações contidas não são relevantes."
Alain Bouillard, chefe da enquete que tem no currículo a experiência de 18 meses de investigações sobre o acidente com um Concorde na cidade de Gonesse, na França, em 2000, garantiu que um primeiro relatório será publicado em junho. "A primeira etapa será a intensa coleta de elementos. O trabalho poderá ser longo, ou mesmo muito longo."
Ex-piloto, diretor do Museu do Ar e do Espaço do aeroporto de Le Bourget e membro da BEA, Gérard Feldzer afirmou que nenhuma das hipóteses aventadas até aqui pode de fato ser descartada: "É muito cedo mesmo para descartar qualquer coisa, seja um atentado, uma explosão, um incêndio, a perda de sustentação, o congelamento, panes elétricas diversas".
A cogitação de um ataque terrorista voltou à tona com a confirmação, pela Air France, de que um de seus voos provenientes de Buenos Aires, com destino a Paris, foi objeto de uma falsa ameaça de bomba em 27 de maio. A companhia não revelou detalhes do episódio e se recusou a estipular relações com o voo AF 447, mas reforçou que alertas similares são frequentes em aeroportos de todo o mundo.
Regras da aviação determinam que quando a localização de um acidente não pode ser definida a investigação deve ser conduzida pelo país em que a aeronave estava registrada.
Local das buscas
De acordo com o ministro Jobim, o primeiro contato visual de destroços foi feito por um avião da Força Aérea Brasileira dotado de sensores (R-99), que detectou restos do avião por volta da 1 hora de terça-feira. Às 5h37, outra aeronave da FAB, um Hércules C-130, visualizou manchas de óleo. Às 6h49, foi identificada uma poltrona de avião. Por último, às 12h30, o C-130 detectou um rastro de vestígios. "Cinco quilômetros de materiais não é de se supor que a maré tenha reunido. A existência da poltrona, do óleo, a identificação do R-99 e agora, complementando, os cinco quilômetros (de destroços), nos permite ter uma posição de que isso é do Airbus da Air France", lamentou.
De acordo com Jobim, não foram visualizados corpos. Jobim ressaltou que as buscas prosseguem numa área de 9.785 km², mas evitou falar em eventuais sobreviventes. "Não trabalho com hipóteses, mas com resultados empíricos", afirmou. Entre os vestígios observados, havia um bote salva-vidas aberto. "Por isso não podemos descartar essa possibilidade (de encontrar sobreviventes). Existiam quatro botes no voo e, se só um foi avistado, outros podem estar perdidos no mar", disse um tenente ao Estado, que pediu para não ser identificado. Há ainda a possibilidade de que os botes tenham se desprendido dos bancos na queda.
No entanto, o procedimento padrão em caso de evacuação, caso existisse um tripulante da Air France em um dos botes, seria amarrar as embarcações umas as outras. Em cada um deles cabem 35 pessoas. A possibilidade é considerada remotíssima por especialistas. O material recolhido será levado a uma distância de até 250 milhas próximas a Fernando de Noronha. Desse ponto, dois helicópteros carregarão o que for encontrado até o arquipélago. Esse limite foi estabelecido por causa da autonomia dos helicópteros, que podem fazer voos de ida e volta que somam 500 milhas.