Air France 447 - Voo 447: Destroços sugerem que desastre foi repentino, diz especialista
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Letícia Lins e Marcelo Dutra
RECIFE, RIO e BRASÍLIA - Os primeiros 37 destroços do voo 447, apresentados na sexta-feira na Base Aérea de Recife, reforçam a tese de que o Airbus A330 da Air France não explodiu antes de cair com 228 pessoas a bordo, na noite de 31 de maio: nenhuma das peças tinha indício de chamuscamento. Os destroços chegaram quarta-feira ao porto de Natal, a bordo do navio Grajaú, e foram levados para Recife num Hércules C-130 da FAB. Ontem foram avistados novos pedaços da aeronave. ( Veja as fotos dos destroços do voo 447 )
As peças serão analisadas por um técnico francês que chega ao Brasil domingo. Responsável por investigar as causas do acidente, ele fará uma perícia inicial e avaliará se os destroços serão levados para a França ou se a perícia completa será realizada em território brasileiro.
" Poltronas usadas pelos comissários estavam recolhidas. Isto sugere que eles estavam circulando pelos corredores. Não tiveram tempo de fazer nada "
O material foi cuidadosamente arrumado sobre uma lona plástica, para facilitar a observação. Os oficiais da Aeronáutica foram instruídos a não dar explicações. Mas algumas peças eram facilmente identificáveis: três máscaras de oxigênio, almofadas vermelhas, duas tampas de bagageiros, três garrafas plásticas intactas, uma maleta laranja de plástico também intacta, dois sacos plásticos amarelos. E ainda uma almofada plástica amarela transparente, lacrada, com um sinalizador de luz (dando a impressão de ser inflável), assim como parte interna da aeronave com dois assentos e os cintos de segurança desamarrados (provavelmente onde se sentam os comissários nos momentos de decolagem, pouso e turbulências). Havia, ainda, duas peças maiores - uma com quase três metros de comprimento bem destruída; e o que parecia ser uma porta, com um suporte para colocar copos ou garrafas. Além disso, havia muitas outras peças, bem pequenas, algumas com tamanho de apenas um palmo.
O ex-piloto Carlos Ari Germano, autor do livro "O rastro da bruxa", sobre desastres aéreos, se disse impressionado com pelo menos uma das fotos divulgadas ontem pela FAB. Segundo ele, a imagem pode indicar que, seja o que quer que tenha acontecido, pegou os ocupantes do Airbus da Air France de surpresa. A tragédia teria chegado de forma tão rápida que impediu a reação da tripulação:
- Vi a parede divisória entre a galley (local onde os comissários preparam os lanches e as refeições de bordo) e o compartimento dos passageiros. Havia poltronas fixadas ali. O curioso é que aquelas poltronas duplas, usadas exclusivamente pelos comissários de bordo, estavam recolhidas. Elas são bem mais finas que as dos passageiros e, nas fotos, dá para ver ainda o cinto e o suspensório que deveria prendê-los ali. Isto sugere que os comissários estavam circulando pelos corredores. Caso houvesse um sinal de alerta devido à iminência de risco, como uma turbulência, a tripulação estaria sentada, atada aos seus lugares. Eles não tiveram tempo de fazer nada.
Kit de primeiros-socorros e porta de banheiro são identificadosO ex-piloto disse ter reconhecido ainda a maleta laranja como a de um kit de primeiros-socorros. Já o comandante Ronaldo Jenkins, consultor de segurança do Sindicato Nacional de Empresas Aéreas (Snea), disse que pôde identificar um colete salva-vidas e também parte do revestimento interno e externo da aeronave:
" Nas fotos publicadas é fácil ver o estabilizador vertical e o leme de direção da aeronave "
- Nas fotos publicadas em dias anteriores é fácil ver o estabilizador vertical e o leme de direção da aeronave. Havia ainda uma porta de banheiro, embora não dê para precisar qual a posição deste banheiro no avião.
Este foi o primeiro lote de destroços recolhidos pela Marinha Brasileira. De acordo com o diretor do Departamento de Controle do Espaço Aéreo da FAB, brigadeiro Ramon Borges Cardoso, ainda há muitos outros destroços nos navios que se encontram na área do acidente. Uma parte deles está na fragata Constituição, que vem trabalhando no resgate de corpos e deve chegar a Recife no domingo. A maior das peças encontradas até agora ainda está na fragata Constituição.
O comandante do 3º Distrito Naval, vice-almirante Edison Lawrence, afirmou que seis corpos de possíveis vítimas do voo 447 da Air France estão a bordo do navio francês Mistral. As vítimas, porém, serão computadas apenas quando passarem para navios brasileiros - ainda sem prazo para acontecer. Por enquanto, o número oficial de corpos recolhidos permanece em 44. O Mistral permanece no limite entre a área de buscas de Senegal e do Brasil.
No IML do Recife os 16 primeiros corpos resgatados continuam à espera de identificação. Outros 25 corpos estão em Fernando de Noronha, onde passam por uma verificação preliminar, e mais três estão a bordo da fragata Constituição.
As buscas na sexta-feira contaram apenas com aeronaves da FAB. As duas francesas que participam da operação estão em manutenção de rotina. As condições meteorológicas continuam desfavoráveis. O submarino nuclear francês Emeraude continua vasculhando a área em busca das caixas-pretas.
Esta é a maior das operações já feitas pela FAB, envolvendo mais de 800 homens. Os navios da Marinha já navegaram 13.763 milhas (o equivalente a 25.490 quilômetros), o que representa mais de três vezes a extensão da costa brasileira, segundo o comando da Marinha e da Aeronáutica.