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Brasil - Avião bateu em árvore antes da queda


Piloto do King Air optou por fazer quase todo o trajeto de forma visual e não há indícios de problemas mecânicos

Bruno Tavares e Vitor Hugo Brandalise

Após uma semana de investigação, a Aeronáutica já conseguiu traçar a provável dinâmica do acidente com o King Air B-350, que caiu no dia 22 em Trancoso, no sul da Bahia, matando as 14 pessoas a bordo. A degravação da caixa-preta, concluída na terça-feira, indica que aproximadamente um quilômetro antes do aeroporto privado Terravista, o avião que transportava o empresário Roger Ian Wright e sua família se chocou com uma árvore, conforme adiantou ontem a coluna Direto da Fonte, de Sônia Racy. O bimotor ainda voou desgovernado por cerca de 800 metros, até cair a 197 metros da cabeceira da pista.

Pelo áudio do gravador de voz da cabine, não há indícios de que o avião tenha apresentado problemas mecânicos antes do choque. Inicialmente, os peritos suspeitavam que um dos motores teria falhado, uma vez que as hélices encontradas em meio aos destroços apresentavam diferentes deformidades - enquanto uma parecia estar funcionando no momento em que o King Air bateu no solo, a outra aparentava já não ter rotação. Os dois motores continuam sendo inspecionados no Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), em São José dos Campos, e não há prazo para a apresentação de um parecer final.

O motivo do choque com a árvore não está completamente esclarecido. Mas tudo indica que o acidente se enquadre numa ocorrência denominada CFIT (sigla em inglês para Colisão com o Solo em Voo Controlado), a segunda mais frequente na aviação geral (táxi aéreo e jatos executivos). Entre 1999 e 2008, segundo dados do Centro de Prevenção e Investigação de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), os choques com obstáculos em voo responderam por 24,4% dos acidentes com aviões de pequeno porte no País, só atrás de falha de motor em voo (28,9%).

Os casos de CFIT costumam ocorrer com tripulações experientes e acostumadas a fazer determinados trajetos. O excesso de confiança, explicam especialistas em aviação, pode causar a chamada "perda da consciência situacional" - provocada pela combinação de falhas de planejamento e de julgamento dos pilotos, associada a condições meteorológicas adversas. O quadro, ao menos por enquanto, se encaixa perfeitamente no cenário do acidente com o King Air.

A leitura da caixa-preta permitiu também aos peritos rever o papel da meteorologia no acidente. No dia seguinte à tragédia, a Aeronáutica, baseada em depoimentos de testemunhas, disse que a chuva não teria contribuído para a queda do avião. Entretanto, o gravador de voz revelou que, num dos últimos contatos com o operador de rádio do Terravista, a tripulação foi alertada sobre o aumento da chuva. Ainda assim, o piloto Jorge Lang Filho, de 56 anos, prosseguiu com a aproximação visual.

Lang Filho conhecia bem a rota entre São Paulo e Trancoso - levava a família Wright para o condomínio ao menos duas vezes por mês. Seu plano de voo estava dividido em duas "etapas" a partir de Congonhas: um trecho de 80 quilômetros sob coordenação do controle de voo e o restante de forma visual. Durante quase todo o trajeto, não se ouve nada de anormal, até o estrondo causado pelo choque com a árvore. Surpreso, o piloto pergunta em voz alta o que teria sido aquilo. Apesar das tentativas, não consegue mais estabilizar o bimotor, que caiu segundos depois. Ainda não se sabe quais as avarias causadas pela colisão, mas são três as hipóteses estudadas - danos ao motor, aos controles direcionais instalados nas asas do avião ou mesmo as duas coisas juntas.

RECONSTRUÇÃO

Na quarta-feira, após tomarem conhecimento do conteúdo da caixa-preta, militares do 2º Serviço Regional de Prevenção e Investigação de Acidentes Aeronáuticos (Seripa-2), sediado em Recife, voltaram ao cenário do acidente em busca de mais destroços que os ajudasse a reconstruir a colisão. Os peritos sobrevoaram a área próxima ao aeroporto e, com a ajuda de um mateiro, refizeram a pé o provável percurso do avião. Constataram que a vegetação contra a qual o King Air se chocou fica em um morro, 60 metros acima do nível da pista. As árvores dos arredores estão dentro do "gabarito de segurança" e, portanto, não interferem nas operações.

A degravação dos dados da caixa-preta confirma as declarações de testemunhas no dia seguinte à queda, que disseram ter visto o avião "fora de lugar" quando se aproximou da pista.






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