Brasil - Lula recebe dirigentes da Embraer e não pede a revisão das demissões
Quinta-Feira, 26 de Fevereiro de 2009
Segundo o ministro Miguel Jorge, presidente continua "inconformado", mas entendeu as alegações da empresa
Renata Veríssimo e Leonencio Nossa
Miguel Jorge confirmou que o governo soube por meio da imprensa, em dezembro, que a empresa poderia fazer um corte de até 20% no total da mão de obra empregada. Ele contou que telefonou, na época, para dirigentes da Embraer, que negaram a informação. O ministro relatou ainda que Lula recebeu a notícia da decisão final da Embraer na quinta-feira, pela manhã. À tarde, após o anúncio da empresa, assessores do presidente informaram que Lula estava surpreso com a decisão.
Ontem, o presidente da Embraer, Frederico Curado, disse que não houve negociação prévia com o governo, que teria sido avisado nas vésperas das demissões. "Não é problema do governo, ou com o Brasil. O problema é do mercado internacional." Ele afirmou que a Embraer só voltará a contratar quando houver aumento das encomendas por aeronaves.
"O restabelecimento das contratações ocorrerá quando o mercado internacional melhorar. Não temos uma visão clara de quando isso vai acontecer." Para ele, a recuperação do nível de produção e das encomendas deve demorar dois a três anos.
Segundo Curado, Lula pediu que a Embraer dê um apoio adicional dos demitidos. A empresa já garantiu a manutenção do plano de saúde dos funcionários e seus familiares por um ano. "Ele (Lula) pediu que a empresa verifique o que é possível fazer para atenuar o problema das pessoas dispensadas", relatou Miguel Jorge.
De acordo com outro participante do encontro, Lula, ao ouvir dos dirigentes da Embraer que a empresa depende de uma melhora nas condições do mercado para fazer novas contratações, disse: "Vamos torcer para o mercado melhorar". Na quinta-feira da semana passada, Lula estava indignado com as demissões, segundo relato do presidente da CUT, Artur Henrique, após encontro com o presidente. O sindicalista contou que Lula afirmara ser inadmissível uma empresa beneficiada com recursos públicos demitir ao primeiro sinal de problemas. O relato de Artur Henrique não foi desmentido pelo Palácio do Planalto.
Participaram da reunião, além de Miguel Jorge, os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Pela Embraer, além de Curado, o presidente do Conselho Administrativo, Maurício Botelho, o vice de Assuntos Corporativos, Horácio Forjaz, e o vice financeiro, Luiz Carlos Siqueira.
Curado garantiu que novas demissões não estão nos planos da empresa. "Já nos ajustamos", disse. A Embraer, segundo ele, teve cancelamentos ou adiamentos de 2009 para 2011 ou 2012 de 30% das encomendas de aviões, reduzindo as receitas previstas da empresa em US$ 1 bilhão. Curado disse que 93% das encomendas são do mercado externo e apenas 7% do mercado interno. "Esse foi o impacto, observado desde julho de 2008."