‘Made in Russia’ - Mitos e verdades sobre os russos no mercado de defesa
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A fracassada negociação da venda das aeronaves de reabastecimento aéreo IL-78 para a Índia trouxe à tona uma questão recorrente no mercado de defesa. O equipamento de origem russa é de qualidade inferior quando comparado com seus equivalentes ocidentais? Deixando de lado questões culturais e preconceitos, o periódico russo Pravda (cuja tradução literal para o português é ‘verdade’) foi investigar a questão.
A indústria de defesa russa (’Oboronka’) está diante de questões problemáticas relacionadas ao gerenciamento de contratos e ao suporte aos clientes tradicionais. No caso dos Il-78 para a Índia, fontes da mídia russa e internacional apontam questões relacionadas à não conformidade dos requisitos estabelecidos pelo cliente. Peças de reposição e serviços de apoio pós-venda também foram duramente criticados. Como resultado, a européia EADS foi favorecida na concorrência.
“Após o colapso da URSS, a Rússia alterou a forma de gerenciamento da indústria de defesa. Atualmente estamos enfrentando problemas com sobressalentes, apoio dos fabricantes e atrasos relacionados à estrutura centralizada das corporações”, disse Fali Homi Major, Comandante-em-Chefe da Força Aérea da Índia, à agência russa RIA Novosti.
O caso dos Il-78 para a Índia não é o primeiro, nem o mais escandaloso. “O fato de maior repercução internacional foi quando a Argélia recusou o recebimento dos caças MiG e nos devolveu as aeronaves. “informou o analista Alexander Khramchihin do Instituto Política e Defesa ao site Bigness.ru.
Em relação à negociação com a Argélia, citada por Khramchihin, os 15 caças MiG-29CMT enviados para o país africano em 2007 foram vendidos como unidades novas, mas foram entregues com peças usadas. Segundo algumas fontes, as aeronaves foram fabricadas com peças que continham centenas de horas de voo.
“Existem vários casos envolvendo a Índia relacionados com diversos tipos de vendas de material de defesa, principalmente na área naval”, completou Khramchihin. A Índia era um dos clientes principais da URSS e continua sendo um parceiro de peso da Rússia na área de defesa. O caso da modernização do porta-aviões Gorshkov fala por si só. Atrasos e elevação nos custos tirou o humor do cliente.
Problemas técnicos também surgiram na transferência da fragatas construídas na Rússia para a Índia. Os sistemas de mísseis de defesa antiaérea falharam completamente em acertar os alvos.
Entretanto, relações de ordem política exclusiva entre a Índia e a Rússia só tinham espaço na época da Guerra Fria. Hoje a situação é outra. “Na época da Guerra Fria a relação URSS-Índia possuía forte orientação política”, disse Khramchihin. “Hoje a Índia pode adquirir material de defesa de quem ela quiser. O mercado tornou-se muito maior do que era antes. O que a Índia disse serve como um aviso para nós que estamos produzindo material militar de baixa qualidade”, afirmou ele.
As vantagens competitivas do produto de defesa produzido na URSS era o seu baixo custo (em alguns casos um verdadeiro ‘dumping’ econômico), sua simplicidade e sua robustez. No entanto, embora o hardware militar da Rússia continue simples, ele começou a perder sua robustez. Por outro lado o custo elevou-se.
A resposta para isso, segundo alguns, é o processo inflacionário ocorrido na Rússia capitalista associado à degradação do complexo industrial militar do país. Os contratos com os órgãos de defesa da Rússia e as vendas para o exterior aumentaram, mas a indústria de defesa russa não consegue recuperar aquela capacidade de produzir em massa, típica do período soviético.
“Fábricas velhas que produziam equipamentos em quantidade e qualidade em outros tempos não conseguem se adequar ao perfil do mercado atual”, disse o analista Ruslan Pukhov, do Centro de Estratégia e Tecnologia da Rússia ao site Bigness.ru.
Também existe um componente laboral neste história toda. “O dinheiro está lá, mas não há mão de obra”, argumenta Kramchihin.
Se esta situação não se modificar, a Rússia perderá o seu espaço no mercado de defesa. Sinais disso já estão ocorrendo. Segundo estudos do SIPRI (Stockholm International Peace Research Institute) e do BICC (Bonn International Converse Center) a fatia do equipamento russo neste mercado ficou menor nos últimos anos.
Comparando o período 2004-2008 com o quinquênio anterior (1999-2003) o mercado de defesa no mundo cresceu 21%. Neste mesmo período as vendas de armamento de origem russa aumentaram apenas 14%. Isso é uma demonstração clara de encolhimento.